Líderes conscientes constroem culturas fortes e humanas. É com esta frase que tenho aberto minhas palestras quando trago a necessidade de refletirmos sobre a demanda atual por uma nova liderança. Em um mundo que se apresenta cada vez mais desafiador, a necessidade de uma nova liderança é mais urgente do que nunca. Esta nova liderança dispõe de um novo nível de consciência e, para tal, investe energia em se desenvolver na direção de qualidades que podemos encontrar nos IDGs, que em português significa Objetivos de Desenvolvimento Interior.
Tendo como propósito de vida estudar o futuro da liderança e o desenvolvimento de líderes, tenho circulado pelo mundo organizacional há mais de 20 anos. Neste tempo, aprendi que a liderança realmente inspiradora é aquela que tem uma força que parte de dentro de si mesma e expande para impactar pessoas, organizações e a sociedade, a partir de uma percepção maior da sua essência humana e seu propósito de vida.
Emerge uma nova liderança
A liderança consciente começa com o reconhecimento de que a mudança começa dentro de nós. Este momento de conscientização surge quando percebemos que os antigos modos de liderar, focados em atingir resultados e metas financeiras a qualquer custo, não são mais sustentáveis nem eficazes, nem mesmo para a própria organização. O mundo de hoje demanda líderes que saibam gerar resultados cuidando das pessoas e que consigam estabelecer uma cultura de trabalho saudável.
Dados recentes do relatório global da Gallup (State of the Global Workplace, 2024) 41% dos colaboradores dizem ter experienciado muito estresse no dia anterior ao da entrevista. Este percentual difere dependendo de como a organização é gerida, sendo que quando há práticas de liderança ruins e desengajamento, a possibilidade dos liderados sentirem muito estresse aumenta em 30%. Também de acordo com o relatório, líderes são responsáveis por 70% da variação no engajamento de seus liderados.
Como Brené Brown nos inspira em seu livro “Coragem para Liderar”, uma verdadeira liderança não se baseia em poder ou controle, mas na capacidade de inspirar os outros através da sua própria autenticidade e compromisso com um propósito que a transcenda. Este chamado para a mudança é um convite para que líderes abracem sua vulnerabilidade, o que significa se abrirem ao autoconhecimento.
O Caminho do Autoconhecimento
Para se tornar um líder consciente, é fundamental investir em práticas de autoconhecimento, como manter um diário, meditar e buscar feedback constante. Estes hábitos permitem que líderes desenvolvam uma boa autogestão de pensamentos e emoções, crucial para navegar com mais consciência pelas turbulências organizacionais e relacionais.
Daniel Goleman, em seu livro “Inteligência Emocional”, destaca: “A habilidade de reconhecer e gerenciar nossos próprios sentimentos é a base da liderança emocionalmente inteligente”. Na minha trajetória, vi líderes transformarem suas organizações ao adotarem práticas de autoconhecimento. Por exemplo, uma diretora financeira de uma grande organização que começou a meditar diariamente e passou a relatar uma nova clareza nas tomadas de decisão e mais ponderação nas tratativas com suas equipes de trabalho. Na minha própria experiência, a meditação e a reflexão diária me ajudam a sair da zona de conforto das tendências habituais me levando a pensar, sentir e agir com mais coerência em relação aos meus objetivos de longo prazo.
A Transformação Pessoal e Organizacional
Um líder consciente não apenas evolui pessoalmente, mas também influencia positivamente sua equipe e organização. Eles promovem uma cultura de aprendizado contínuo, empatia e colaboração. Líderes conscientes sabem que a verdadeira transformação começa dentro. Ao desenvolver práticas que promovam a aprendizagem coletiva e ambientes de maior segurança psicológica, é criado um ambiente onde mais pessoas se sentem valorizadas e motivadas a contribuir com seu melhor. Este tipo de liderança não só melhora o desempenho organizacional, mas também promove um impacto positivo na saúde mental das pessoas.
Os Objetivos de Desenvolvimento Interior (IDGs) e a Liderança Consciente
As qualidades humanas promovidas pelos IDGs são essenciais para o desenvolvimento de uma liderança consciente. Vamos explorar um pouco como cada um dos cinco IDGs se correlaciona com essa nova forma de liderança:
1. Ser (Being)
O foco no autoconhecimento e na presença é fundamental. Líderes que cultivam a autoconsciência e estão presentes no momento conseguem gerenciar melhor suas emoções e comportamentos. Eles são mais capazes de tomar decisões equilibradas e criar um ambiente de trabalho saudável e produtivo.
2. Pensar (Thinking)
O pensamento sistêmico e o aprendizado contínuo são cruciais para lidar melhor com a complexidade dos desafios modernos. Líderes conscientes utilizam essas habilidades para ver o panorama geral, identificar interconexões e adaptar suas estratégias de forma inovadora. Essas lideranças sabem que uma cultura de aprendizado contínuo dentro de suas equipes fazem grande diferença no engajamento das pessoas.
3. Relacionar (Relating)
Empatia e colaboração são essenciais para construir relações fortes e eficazes. Líderes que se conectam genuinamente com suas equipes, valorizando as diferenças e promovendo a inclusão e o pertencimento, conseguem inspirar confiança e lealdade. A empatia permite que eles compreendam melhor as necessidades e perspectivas dos outros, facilitando uma colaboração mais efetiva.
4. Colaborar (Collaborating)
A confiança é a base de qualquer equipe bem-sucedida. Líderes conscientes cultivam um ambiente de confiança mútua, onde todos se sentem seguros para expressar suas ideias e opiniões. Isso promove uma cultura de colaboração e inovação, onde todos trabalham juntos em prol de objetivos comuns.
5. Agir (Acting)
Coragem para se manter íntegro e fiel aos seus valores, mesmo diante das tentações de um mundo tecnológico, é essencial. Líderes conscientes utilizam a tecnologia a favor do ser humano, garantindo que ela esteja sempre a serviço das pessoas e não o contrário. Eles agem com integridade, garantindo que suas ações estejam alinhadas com seus valores e princípios éticos.
Conclusão: A Necessidade de Ser
A liderança consciente é uma viagem contínua de autodescoberta e crescimento. O investimento nos IDGs é o primeiro passo essencial para qualquer líder que deseja ser verdadeiramente inspirador e eficaz. Em um mundo que demanda cada vez mais autenticidade e empatia, os líderes que priorizam o autoconhecimento estarão melhor equipados para guiar suas equipes através das incertezas e complexidades do futuro.
Sejamos os líderes que o mundo precisa, investindo em nosso ser para liderar com consciência e compaixão. Que possamos transformar nossas organizações e, por extensão, o mundo, começando pela transformação dentro de nós mesmos.
Referências
Brown, B. (2018). Coragem para Liderar: Trabalho duro, conversas difíceis, coração pleno. BestSeller.
Goleman, D. (1995). Inteligência Emocional: A teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. Objetiva.
Scharmer, C. O. (2009). Teoria U: Como liderar pela percepção e realização do futuro emergente. Cultrix.
GALLUP. (2024). State of the Global Workplace: 2024 Report. Disponível em https://www.gallup.com/workplace/349484/state-of-the-global-workplace.aspx