O que aconteceu esta manhã foi incrível! Tive a oportunidade de assistir aos ensinamentos do Dalai Lama, diretamente em seu templo, aqui na Índia. Uma das suas principais mensagens foi sobre a importância de levarmos a ética secular para todos os ambientes, inclusive o mundo corporativo.

Nosso momento histórico demanda uma nova visão sobre nossa existência nesse planeta, nossos estudos e práticas de vida, assim como no trabalho. Precisamos incluir o amor, a compaixão e a não-violência em tudo o que fazemos.

Ainda em êxtase com seus ensinamentos, chego ao hotel, ligo a internet e me deparo com uma notícia que pode mudar a história do empreendedorismo mundial! Yvon Chouinard, fundador e dono da empresa de roupas e equipamentos de aventura, Patagonia, acabou de ceder 100% da sua participação na empresa, que fatura mais de 1 bilhão de dólares por ano, para a conservação do meio ambiente.

Uma lição e tanto, que se conecta com a mensagem de Dalai Lama: precisamos rever a nossa missão como pessoas e sociedade, para uma melhor existência nesse planeta. 

Sou um admirador antigo do Yvon Chouinard. O livro que ele publicou “Let My People Go Surfing: The Education of a Reluctant Businessman” é um dos melhores que já li e recomendo fortemente.

A carta de Yvon foi traduzida para o português pelo meu time de pesquisa e passo, agora, a palavra para que o próprio Yvon Chouinard te dê a notícia:

A Terra é agora nosso único acionista.

Se tivermos alguma esperança de um planeta próspero – ou de, no mínimo, um negócio próspero – daqui a 50 anos, todos nós teremos que fazer o que pudermos com os recursos que temos.

Isto é o que podemos fazer.

Por Yvon Chouinard

Eu nunca quis ser um empresário. Comecei como artesão, fazendo equipamentos de escalada para meus amigos e para mim; depois entrei no vestuário. À medida que começamos a testemunhar a extensão do aquecimento global e da destruição ecológica e a nossa própria contribuição para isso, a Patagonia se comprometeu a usar nossa empresa para mudar a forma como os negócios eram feitos. Se pudéssemos fazer a coisa certa e ganhar o suficiente para pagar as contas, poderíamos influenciar os clientes e outros negócios e talvez mudar o sistema ao longo do caminho.

Começamos com nossos produtos, utilizando materiais que causavam menos danos ao meio ambiente. Doamos 1% das vendas a cada ano. Tornamo-nos uma Empresa B certificada e uma corporação beneficente da Califórnia, escrevendo nossos valores em nosso estatuto corporativo para que fossem preservados. Mais recentemente, em 2018, mudamos o propósito da empresa para: “Estamos neste negócio para salvar nosso planeta.”

Embora estejamos fazendo o nosso melhor para lidar com a crise ambiental, isso não é suficiente. Precisávamos encontrar uma maneira de investir mais dinheiro no combate à crise, mantendo os valores da empresa intactos.

“Verdade seja dita, não havia boas opções disponíveis. Então, criamos uma própria.”

Uma opção era vender a Patagonia e doar todo o dinheiro. Mas não podíamos ter certeza de que um novo proprietário manteria nossos valores ou manteria nosso time de colaboradores em todo o mundo empregado.

Outro caminho seria abrir o capital da empresa. Que desastre teria sido! Mesmo sociedades anônimas com boas intenções estão sob muita pressão para gerar ganhos de curto prazo às custas da vitalidade e responsabilidade de longo prazo.

Verdade seja dita, não havia boas opções disponíveis. Então, nós criamos uma própria.

Em vez de “ir a público”, abrindo o capital da empresa, você poderia dizer que estamos “indo para o propósito”. Em vez de extrair valor da natureza e transformá-lo em riqueza para os investidores, usaremos a riqueza que a Patagonia cria para proteger a fonte de toda esta riqueza.

Funciona assim: 100% do capital votante da empresa é transferido para o “Patagonia Purpose Trust”, criado para proteger os valores da empresa; e 100% das ações sem direito a voto foram doadas ao Holdfast Collective, uma organização sem fins lucrativos, dedicada a combater a crise ambiental e defender a natureza. O financiamento virá da Patagonia: a cada ano, o dinheiro que ganhamos após o reinvestimento no negócio será distribuído como dividendo para ajudar a combater a crise.

Já se passaram quase 50 anos desde que começamos nossa experiência em negócios responsáveis e estamos apenas começando. Se tivermos alguma esperança de um planeta próspero – ou de no mínimo um negócio próspero – daqui a 50 anos, todos nós teremos que fazer o que pudermos com os recursos que temos. Essa é mais uma forma que encontramos de fazer a nossa parte.

Apesar de sua imensidão, os recursos da Terra não são infinitos, e está claro que ultrapassamos seus limites. Mas nosso planeta também é resiliente. Podemos salvá-lo se nos comprometermos com isso.

Yvon Chouinard

Já sou usuário há mais de 12 anos dos produtos da marca, que tem a durabilidade como principal característica, justamente pelo seu compromisso com o meio ambiente.